quarta-feira, 25 de abril de 2012

Música, alma e tristeza

Costumo ouvir…. Costumo não, careço de ouvir. O meu pensamento, a minha concentração ou raciocínio precisam de música. A música, seja ela qual ela for pois a idade apaziguou-me com os vários estilos, serve-me de afago; É precisada pela minha razão assim como o pastel de nata o é pelas minhas vísceras ou gulodice. A música marca o compasso e oleia as minhas ideias. Ordena-os, acalma-os  e influencia a sua vivacidade.  A música é…. música para os meus ouvidos, é protecção para os ruídos incomodativos, é compasso para a minha respiração ou inspiração para as minhas tristezas.
Costumo e adoro viver a música.
As letras dela nem tanto… Se a letra viver na minha língua materna é, maquinalmente, decifrada e classificada por mim, pelo meu cérebro. Em português catalogo a letra, estilo e a altura em que me agradará ouvir essa música em particular… Eufórico, alegre, triste ou melancólico gostarei ou não da música…. A precisar de aguilho ou a precisar de quietação será esta ou aquela música a minha preferida na altura…
Em outra língua, que não a minha, não costumo catalogar ou ligar à letra, apenas sinto o ritmo, apenas a classifico para ser usada na euforia, alegria, tristeza ou melancolia.
Mas hoje, tal como nos últimos tempos, o meu ser mostra-se irrequieto e, enquanto ouvia o “TNT “ da Comercial, na tentativa de me aguilhar e como protecção para os ruídos incomodativos dos arruaceiros que (infelizmente) moram por cima de mim, e, num impulso, a pensar no  Sting ou no Peter Gabriel, ouço, traduzo e interpreto “You can get addicted to a certain kind of sadness”…
E eis a solução; Eis a questão…. Estou deformado numa dada tristeza, resignei-me ao fim… Eis que uma frase, que não na minha língua materna, me acorda para um afecção que, habitando o meu quotidiano, passou totalmente desapercebida… Pensava que precisava de uma nova vida, mas não(!), apenas preciso de afastar a tristeza…. A tristeza tenta minar, derrotar a minha vida. E, o mais triste, estava a conseguir! Tenho uma vida que se encontra minada pela tristeza. É triste, não é?
Mas o fim implica, obrigatoriamente, o princípio ou, em vez, o limbo…
Não quero, de todo, transportar este meu vício para o sestro da religião defendendo (ou não) a reencarnação. Para acautelar a religião (neste meu monologo) importa referir que a encarnação, a desta discussão, é uma reencarnação à contrário uma vez que, se fosse religiosa, preveria transportar a minha alma para corpo diferente da minha existência, e, como não é ou o é ao contrário, ambiciona uma alma diferente para o meu corpo… A tristeza, na qual admito estar viciado, vive na minha alma e não no meu corpo…. Poderia transportar a tristeza de corpo em corpo e, deste modo, não a converteria na ambicionada alegria… Apenas estaria a apeçonhentar os corpos que a hospedariam. Não acharia, nunca, a sua decifração.
Salvaguardada que está esta questão da (provável) religiosidade do tema, voltemos ao vício.
O meu vício é a tristeza… A tristeza de uma ocupação profissional que, na actualidade, já nem sequer traz segurança (financeira) para custear a minha alegria. Dá, e muito mal, para pagar despesas correntes.
Nesta altura já descartei a reencarnação e a encarnação… Não preciso de uma nova alma ou de um novo corpo. Preciso de um trabalho novo que me limpe a alma da tristeza.
Se abdiquei pelo fim … não sei. Mas acho que sim. Abdico de um novo corpo, de uma nova alma, do princípio ou do fim, do limbo e da tristeza. Se assim não fosse, não passaria de “somebody that I used to know”. Só não consegui, ainda, abdicar do trabalho, do que alimenta a minha tristeza e profana a alma…  


Esta canção fala de um relacionamento a dois ou a um?????