quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A vida e as escolas têm destas coisas….

Começando a crer que sou (realmente) um “info-excluído” falaram-me hoje do Rafael Pereira [http://www.rtp.pt/noticias], o petiz que (alegadamente) se matou por causa da opinião (geral?) contra parte do seu corpo. O que se passou não me alcança. O que me afectou (e muito) foi o desfecho daquela história. Ninguém com 10 anos devia, tão-pouco, ter a concepção de morte, quanto mais possuir conhecimentos para a obter!
 Não vou sequer comentar a situação pois não a vivi… Mas esta conjuntura tocou-me; Tocou-me pois, para além de já ter tido 10 anos, sou pai.
Poderei entender os sentimentos do Rafael porque também vivi, tal como ele, a humilhação. Não me lembro de algum reparo às minhas orelhas mas recordo, sem qualquer saudade, as observações às minhas banhas.
E o mais interessante é que quem mais reparava nas minhas gorduras tem, actualmente, o quíntuplo das que agora desfruto. Deus escreveu por linhas tortas? Não sei e, também, não quero saber mais do assunto. Deixou-me marcas? Visíveis não. Só recordações.
Infelizmente, o pequeno Rafael não atingirá a maturidade e segurança pessoal para chegar às minhas conclusões.
Poderei entender os sentimentos do Rafael porque, agora, ultrapassadas as minhas questões pessoais (as directas), sou atingido pelo mesmo problema indirectamente, atingido pelas minhas filhas.
A minha filha frequentou, nos últimos três anos, uma escola (escolhida por mim!) que é tida por “de elite” no concelho onde resido. Como um verdadeiro e empenhado pai, profundamente preocupado com o bem estar e futuro da sua filha (pelo menos achava eu) não se importava de a fazer sair mais cedo da cama, obrigar o carro a uns quantos quilómetros por dia para a entregar (dada a distância de casa), de levar grandes secas à porta da escola à espera da saída (assistindo todos os dias a coisas horríveis – Como exemplo, posso lembrar-me de quando separei alunos em cenas violentíssimas ao ponto de ficar com o casaco coberto de sangue), de ter de pedir, constantemente, esclarecimentos (mudos pois nunca tinham resposta) à escola devido a cenas irreais que se passavam dentro do seu recinto (consumirem o saldo do cartão à miúda, baterem-lhe ao ponto de rasgar roupa e demais cenas que, felizmente e graças a Deus fazem parte do passado!) ….
Isto tudo, note-se que eu julgava necessário para o seu bem-estar e futuro, e sob as suas constantes lamúrias sobre a escola….Vivendo a recusa de sair da cama, grandes discussões sobre a roupa a vestir, repulsa pelo que lhe era dado como pequeno-almoço, livros e cadernos riscados e rasgados, a denegação de contar o quotidiano da sua turma (que só eu a considerava sua!)… “Mau feitio e recusa de reconhecer o que era fundamental para o seu futuro”, pensava eu.  Recusava-me a ler os sinais.
Pois, reconheço aqui publicamente, estava redondamente enganado!!!!!!!!!!!!
O seu desespero já devia ser tal que, no fim do ano lectivo passado, me solicitou a sua transferência para uma outra escola. A minha primeira reacção foi, a bem do seu futuro, ela teria que continuar naquela escola. Pacientemente, e mostrando provas do seu crescimento, apresentou-me os seus argumentos.
E ainda bem que foi insistente neles.
Felizmente aderi às suas razões e pedi a transferência para a escola que, a julgar pela opinião corrente (que diga-se, desde já, não corresponde, de todo, à verdade!), é o oposto da que ela frequentava. Eu, num acto de pura demência, solicitei a transferência da minha filha de uma escola de “referência”(????) para o pior dos piores estabelecimentos escolares da Grande Lisboa.
Agora, e face à minha loucura, sou agraciado com uma filha que sai, de manhã, sozinha da cama, veste um trapo qualquer, faz o seu pequeno almoço, tem os livros no estado em que foram comprados e os cadernos fora de qualquer reparo Sei o nome de (quase) todos os seus colegas e dos professores… Pareço ter voltado à escola e que faço parte da turma.

Obrigado filha por me teres aberto os olhos.
Tentem ver os problemas do lado deles, dos filhos… Sintam-nos e procurem a melhor resolução (e com isto não estou a dizer que têm de lhes fazer as vontades todas). Por vezes uma pequena resolução fará diferença (abismal) na vida de um filho. Eu tive esta prova e tenho um gosto tremendo em partilhar convosco o sucedido.
Eu achava estar correcto nas minhas opções. Descurei as de quem vivia sobre as suas consequências… E por vezes as mais pequenas coisas têm as consequências mais terríveis que se possa imaginar (leia-se a teoria do caos), não foi Rafael?

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